feldman e del nero

Da FOLHA

Por JUCA KFOURI

É fogo no boné do guarda, diria o narrador. O futebol brasileiro segue nas mãos dos mais sombrios

NENHUM PERFIL de Marco Polo Del Nero, que hoje assume formalmente a presidência da Casa Bandida do Futebol, estaria completo sem a informação definidora de seu estilo: pôs detetive atrás da namorada.

Importa pouco quantas namoradas teve ou terá. Importa saber a que ponto pode chegar. Espionará, ou espionou, ou espiona, também seus adversários?

Conheci Nero quando ele advogava para Eduardo Farah, então presidente da FPF, nos anos 90.

Ambos foram mal sucedidos em tentar que me retratasse do que havia escrito sobre o cartola.

Achei-o subserviente e sem brilho. Hoje percebo que a subserviência era apenas método para apunhalar o chefe cuja maleta carregava no fórum em que nos encontramos.

Farah dizia que reinava absoluto na federação porque seus dois vice-presidentes, Nero e Reinaldo Carneiro Bastos, viviam como gato e rato, embora sem se desgrudar, em permanente vigilância.

Eles dividiam e Farah reinava, segundo o próprio, sabe-se lá se com razão ou não, porque há controvérsias sobre as relações de Nero, o novo imperador, e Carneiro, agora no comando da FPF.

Posto que, ainda como Farah contava, deveria ter ocupado já em 2003, quando Nero os surpreendeu rompendo o acordo que o trio fizera para que o mais moço, e não o mais velho como diz o estatuto da FPF, assumisse o cargo.

Na manhã do dia em que Farah anunciou sua renúncia, Nero avisou que sua família, num jantar na noite anterior, ao ser comunicada do acerto, não havia concordado em vê-lo passado para trás e exigira, sempre segundo o traído Farah, “que honrasse as calças”. Dito e feito.

O resto é sabido. Nero se aproximou de Ricardo Teixeira de quem Farah era desafeto e construiu a ponte para chegar ao trono, gozando das benesses generosamente concedidas pelos amigos de Teixeira, como mais uma formidável reportagem de Sérgio Rangel revela em detalhes.

Aí, como diz o poeta, fez-se do amigo próximo, distante, e à medida que a distância aumentou, prevaleceu o provérbio lusitano: brigam as comadres, desdobrem-se as verdades.

Nero assume a CBF com um gol contra semelhante à gota d’água que obrigou Teixeira a se escafeder do país: o perfil feito pela “Vejinha” que o deixou nu como o da revista “piauí” sobre o ex-presidente, devidamente enfraquecido pelas reportagens que valeram o Prêmio Esso aos seus autores desta Folha.

O ex-genro de João Havelange, ao chegar ao topo, era um ilustre desconhecido, caído de paraquedas na capitania hereditária que infelicita nosso futebol.

Nero, não. Tem uma extensa folha de desserviços prestados ao futebol paulista, um dos coveiros da rica história escrita pelos clubes do interior. Além da parceria com José Maria Marin, cujo resultado mais eloquente obteve no Mineirão, graças aos alemães.

Se não bastasse, como Marin, Nero carrega o passado de extrema direita, membro do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) nos tempos de estudante durante a ditadura. 8 a 1!

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